Quando se é criança o estado natural é o estado da ingenuidade. Tudo é simples, puro e belo. Não se desconfia da malícia do outro, e as aventuras vão surgindo e com elas aprendendo.
Ela que cresceu lá na cidadezinha do interior, a guria lá do campo sem ter as regalias que o dinheiro podia comprar fez com que ela crescesse ingênua. Para muitos era uma abobada, para ela aquilo era ser feliz.
Ser ingênuo não é para sempre, a vida dá voltas e os sabores doce e amargo juntam-se no dia-a-dia. A ingenuidade vai dando lugar ao aprendizado, talvez até a sabedoria...
Mas ela era ingenua mesmo com o tempo passando... Não sabia das coisas do mundo, não tinha noção de quão grande ele era. Foi a cidade grande pela primeira vez lá com seus 13 anos. O tal do shopping center com escada rolante só tinha visto em filme. Curso de inglês, academia e cursinho pré-vestibular não estavam dentro de suas posses.
Aos 15 ela nem sabia o que era esse tal de intercâmbio... o mundo era bem pequeno e achava que não tinha muitas chances de ir para além da fronteira Rio Grande -Pelotas ou depois do Chuí.
Ela não era burra, nunca foi, só achava que o seu mundo nunca seria maior que aquele cantinho no sul do mundo.
Não tinha malícia. Ela era simplesmente simples. Com os percursos da vida a ingenuidade foi ficando menos perceptível mas deixar de ser ingênua não fez com que ela se tornasse pessimista, talvez só um pouco mais realista.
Um dia ela ficou sabendo mais do mundo, mas nunca pensou que podia conhecê-lo.Durante muito tempo ela fingiu que era menos ingênua do que realmente era... com o tempo ela foi deixando a ingenuidade de lado e conhecendo mais dela, dos outros e do mundo...
Hoje mesmo ela já sabendo que a resposta para a vida, o universo e tudo mais é 42* tem dias que é mais do que ingênua acreditando que no fim tudo vai dar certo. Mas sabe que quando ela acha que tudo vai dar certo fico na dúvida se ela continua ingênua ou se tornou uma grande burra...
* A vida, o universo e tudo mais - O guia do Mochileiro das Galáxias vol 3.
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